Este blog chegou ao fim da sua vida !!!


Mas vai renascer com todos estes e muito mais posts em http://www.gemeo-singular.blogspot.com/, com nova imagem e novo nome.


Esperamos-vos lá!



LUTO INSONDÁVEL PRESO NUMA ESPIRAL DE AMOR SEM FIM

Veja no fundo desta página uma apresentação em 23 slides: a origem dos sentimentos que gémeos singulares relatam com mais frequência e uma descrição dessas sensações e emoções.



28 de agosto de 2008

Meu Sósia e Eu

Esta manhã veio parar-me às mãos, numa livraria, o livro Meu Sósia e Eu, da editora Campo das Letras (1999). O título chamou-me a atenção: aos 92 anos o mestre Oscar Niemeyer edita um livro autobiográfico, e opta por destacar no título o binómio dos dois seres que ele sente serem ele! (em vez de usar simplesmente o seu nome, ou algum outro nome que o caracterize).

Este génio da arquitectura que no dia 15 de Dezembro de 2007 fez cem anos, desafiou a arquitetura com linhas sinuosas, extrapolou o modernismo, criou Brasília (junto com Lúcio Costa) e recentemente foi eleito o nono entre os 100 maiores génios vivos.

O livro tem por fim dar a conhecer os diversos ângulos da personalidade de Oscar Niemeyer - o Arquiteto, o Artista, o Escritor, o Criador, o Cidadão, o Amigo; as suas andanças, os seus amigos, a sua familia, as coisas que lhe interessam.

Diz Oscar Niemeyer no prefácio, explicando um pouco melhor quem é, e que tipo de relação tem com este seu sósia:

«Meu sósia vem de longe, de outros continentes, de tempos tão distantes que deles só os livros podem lembrar. Mas vem também de áreas mais próximas, vem de Maricá onde nasceram meus avós (…)
Nada tenho a me queixar deste intruso que dentro de mim existe há anos, e me cerca com seus conselhos.
Mais puro do que eu – desconhece todos os preconceitos da sociedade – ele me sugere coisas impossíveis. Mas é honesto, despensa bens materiais e é leal e generoso, o que facilita essa conversa diária que mantemos.
Gosta de beleza. A mulher o fascina e a natureza o emociona. Muita coisa nos identifica. (…)
Não é difícil levá-lo para os problemas sociais. Seu feitio fraternal facilita.
E assim vamos nós de mão dada, sonhando melhorar o mundo. (…)
Curioso, meu sósia quer ocupar-se de coisas em demasia. Desenhar, fazer esculturas e literatura. Procuro contê-lo, fazendo autocrítica, ouvindo os amigos, lendo muito.Mas ele insiste. Diz que a arquitectura deve estar ligada a todos os assuntos da cultura e lembra como afirmativas de Heidegger e Malraux me foram úteis na defesa de meus projectos. Tudo o que faço tem sua participação e com ele divido o que vocês acharem de bom ou ruim neste livro


Encontrei mais esta frase sua, de uma outra ocasião: “Acho muito bom a pessoa se recolher e ficar pensando em si mesma, conversando com esse ser que tem dentro dela, que é nosso sósia, né? Eu converso com ele a vida inteira.”

O que nos ensina este mestre centenário é de uma simplicidade comovente: com imensa lucidez ele ousa aceitar, acolher e dialogar com aquela outra parte de si próprio, a quem ele chama o seu sósia interior. E mais que isso, ele apresenta-o e louva-o publicamente em diversos momentos, ao ponto de lhe dar o maior protagonismo quando edita um livro com as suas obras e eventos principais, as mais queridas, tudo o que mais o caracteriza como pessoa.

É integrando na nossa vida aquele ou aquela que sentimos ser o nosso sósia dentro de nós, dando-lhe um lugar concreto, um espaço real, acreditando na sua existência e poder, que nos podemos curar da dualidade que está entranhada no nosso ser. É validando os nossos sentimentos perante nós próprios e os outros falando deles a todo o mundo, que nos vamos libertando da dor da perda para então podermos atingir o nosso verdadeiro potencial.

24 de agosto de 2008

Mário de Sá Carneiro

Dispersão

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje quando me sinto
É com saudades de mim.

...

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo.
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida,
Assim eu choro da vida,
A morte da minha alma.

Saudosamente recordo
uma gentil companheira
que na minha vida inteira
eu nunca vi, mas recordo.

A sua boca dourada
e o seu corpo esmaecido,
Em um hábito perdido
Que vem na tarde doirada.

(As minhas grandes saudades
são do que nunca enlacei.
Ai como tenho saudades
dos sonhos que não sonhei!...)

...


Partida
...

Ao triunfo maior, avante pois!
O meu destino é outro - é alto e é raro.
Unicamente custa muito caro;
A tristeza de nunca sermos dois...