Este blog chegou ao fim da sua vida !!!


Mas vai renascer com todos estes e muito mais posts em http://www.gemeo-singular.blogspot.com/, com nova imagem e novo nome.


Esperamos-vos lá!



LUTO INSONDÁVEL PRESO NUMA ESPIRAL DE AMOR SEM FIM

Veja no fundo desta página uma apresentação em 23 slides: a origem dos sentimentos que gémeos singulares relatam com mais frequência e uma descrição dessas sensações e emoções.



29 de janeiro de 2009

Palestras no Porto

Estou muito contente por poder apresentar mais uma palestra sobre gémeos sobreviventes, desta vez no Porto. Será dia 13 de Março às 19h30 na Rua de Santa Catarina, 722 sala 203 na forall, um centro de psicologia -atendimento e formação.
Vou apresentar de novo um excerto de um documentário sobre gémeos, trigémeos e quadrigémeos, e alguns outros trechos para depois conversarmos de forma informal.
Se são ou pensam que podem ser gémeos sobreviventes, ou se têm amigos, ou familiares que o são, ou ainda se simplesmente se interessam por esta matéria, não faltem.

Agradeço a quem já se inscreveu, sejam bem-vindos!

Como esgotamos as vagas para este dia haverá outra palestra idêntica na sexta-feira seguinte, dia 20 de Março às 19h30.

No dia 4 de Abril faremos um Workshop das 9h30 às 18h00 para quem estiver interessado em explorar o seu caso pessoal com mais informação e exercícios práticos. Por favor escrever para wombtwin.pt@hotmail.com para mais informações.

Procura do Eu

Por entre as viagens percorridas;
Eu sou quem?
Pedaços múltiplos, reencarnações, outras vidas.
Um sentido de ser, não ser ninguém...
Eu sou quem, eu sou quem?

Na penumbra da noite já sombria;
Eu sou quem?
Sou um vulto, um grito ou magia
Um fugir ou reencontro ao ver além.
Eu sou quem, eu sou quem?

Tantas cores numa tela que é vida;
Eu sou quem?
Pedaço de arco-íris ou pintura colorida
Um esboço de paisagem, um alguém.
Eu sou quem, eu sou quem?

16.02.2000
Manuel Montoiro
(gémeo que perdeu o seu irmão à nascença)

22 de janeiro de 2009

Desvendando o nosso segredo

No dia 17, sábado, apresentei pela segunda vez publicamente este que é um dos maiores e mais bem guardados segredos do nosso tempo: a história da vida pré-natal dos gémeos sobreviventes.
Éramos cerca de 12 pessoas no restaurante Ki em Aveiro, onde apresentei uma selecção de slides e um excerto do Programa televisivo que a RTP2 passou dia 11 deste mês - Milagres no Útero -, sobre Gémeos e Múltiplos.
Entre os presentes alguns tinham irmãos gémeos vivos, outros tinham perdido os seus irmãos gémeos à nascença, uns já tinha pensado na possibilidade de terem tido um irmão ou irmã gémea durante a sua gestação, e outros nunca tinham ouvido falar desta história. Mas segundo o que me disseram depois, todos ficaram com a sensação de terem tomado consciência de algo importante e revelador.
Pessoalmente fiquei mais uma vez muito feliz, porque cada vez que falo deste tema publicamente sinto que estou a honrar e a dar voz aos meus companheiros de gestação.

E aproveito para deixar escrito que a Althea Hayton, a fundadora e grande impulsionadora da Associação Wombtwin.com vai estar em Portugal em Abril deste ano para uma palestra ou workshop. Em breve darei mais pormenores desse evento, mas se quiserem receber informação detalhada podem deixar-me o vosso contacto enviando um e-mail para cpinheiro02.@hotmail.com

Aos poucos e poucos vamos espalhando a notícia!
Obrigada pela vossa presença.

Identidade

A identidade é um tema incrivelmente complexo para quem sobreviveu in-útero a perda de um gémeo. A questão põe-se constantemente: Quem sou eu? Serei eu Eu, ou serei o Outro? Serei eu dois? Seremos nós um só?
No caso dos sobreviventes que tiveram um gémeo do sexo oposto para além da indefinição de identidade surgem também as indefinições de género. Porque é que como homem sinto tanta necessidade de me exprimir através da minha energia feminina? ou, de onde me surge tanta energia masculina se sou uma mulher?

Na cultura nativo-americana original os chamados Two Sprits (Dois-Espíritos) também intitulados Twin Sprits (Espíritos-Gémeos) eram indivíduos que apresentavam indefinição de género, quer fosse a nível das características da sua personalidade, dos estilos de vida que escolhiam, da sua opção sexual, ou mesmo a nível dos órgãos genitais.

Conforme a tribo a que pertenciam eles usavam vestes próprias e segundo o que intuitivamente sentiam ser a sua missão eram curandeiros, artistas, profetas, ... Estes indivíduos eram considerados do terceiro género porque não se identificavam nem com as características definidas para os homens nem com as que eram apropriadas para as mulheres. Venerados como extraordinárias fontes de informação sobre a natureza humana, acreditava-se que eles tinham o poder de trazer à sua tribo um maior equilíbrio entre os princípios masculino e feminino.

É interessante observar que para o povo Navajo a história da Criação se desenrola em torno de lendas que incluem numerosos pares de gémeos (entre os Lakota os gémeos eram "wakan" sagrados). Numa das maiores cerimónias dos Cheyenne, a “Dança do sol” que celebra a Nova Vida, eram Two Spirits os líderes do ritual sagrado. Este hino à Nova Vida evidencia a consciência de que a Vida só é possível quando flui a partir das energias mágicas da gemelaridade, aqui entendida como o conceito da dualidade: na vida, no mundo natural, tudo existe em equilíbrio - masculino/feminino, grande/pequeno, luz/escuridão, bom/mau, céu/terra.

Com uma atitude que nutre e abarca todas as coisas dando-lhes protecção e apoio indiscriminados, e uma grande abertura nomeadamente para aceitar e apreciar a complexidade humana, a sabedoria ameríndia acolhia os Twin Spirits ou Two Spirits com reverência e alegria.

Uma ideia que me sugere esta comovente tradição: serão aqueles que perderam irmãos gémeos no útero materno literalmente a morada física de duas ou mais entidades espirituais? e também, terão estas pessoas competências muito próprias, mas pouco exploradas por uma sociedade ocidental que não recebe bem a diversidade e a diferença?

16 de janeiro de 2009

Responsabilidade

Gosto muito do modo como Althea Hayton (ler aqui em inglês) coloca a certa altura do texto a questão da responsabilidade de cada um perante o modo como conduz a sua vida. Quer sejamos sobreviventes de gémeos perdidos ou de outras tragédias humanas, todos temos responsabilidade pelo que fazemos com o que temos disponível na nossa vida agora.

Sugiro que olhemos para a culpa-de-sobrevivente; a lealdade ao nosso pequeno gémeo perdido que nunca teve hipótese de nascer; o desejo de reencontrar na morte a nossa outra metade perecida:
Se eu não quero estar aqui, nem nunca quis nascer; se eu sinto que não mereço estar aqui porque o meu gémeo nunca chegou a conhecer a luz do dia, porque razão tenho de deitar fora a minha vida, de viver num pote de compaixão, e de desperdiçar os melhores anos da minha vida à espera de ser resgatado por algum terapeuta experiente?

Você resiste em viver a sua vida?
Só por um momento experimente dar Graças.

Foi-lhe oferecido este grande presente - a vida.
Não o desperdice nem por um minuto!

Você recusaria os seus presentes de Natal? Era capaz de
devolvê
-os sem os abrir? Desembrulhe o presente da sua vida hoje e permita-se recebê-lo.

É gratuito. Está aqui e é todo seu.
Se você não o usar ninguém mais o fará; nem mesmo o seu gémeo perdido!


5 de janeiro de 2009

Wombtwin Day

A Associação Wombtwin.com estabeleceu o dia 21 de Dezembro como o Wombtwin Day – O Dia do Sobrevivente de Gestação Múltipla.

Esta data é uma das três em que é festejado São Tomé, chamado "o Gémeo" na Bíblia. Tomé não é propriamente um prenome, mas sim a palavra equivalente a gémeo, vindo do aramaico Tau'ma (תום). Muito se discute de quem ele teria sido irmão gémeo. A festa Ocidental é a 21 de Dezembro, em igrejas Católicas romanas e sírias é a 3 de Julho, e na igreja grega é a 6 de Outubro.

Nos EUA e noutros lugares, o dia 3 de Julho está já bem estabelecido como a data em que pares de gémeos celebram a sua gemelaridade, pelo que não seria uma data conveniente para nós gémeos sobreviventes. 21 de Dezembro sim, faz sentido por duas razões:

  1. porque a data fica cerca de 7 meses antes do Dia de Gémeos (3 de Julho) e muitos gémeos "desaparecem" por volta das 8 semanas;

  2. porque sendo o dia mais escuro do ano, o solstício de Inverno, depois dele movemos-nos lenta e suavemente na direcção da Luz de um novo Verão (quantos sobreviventes não se encontram num lugar muito escuro, e quando descobrem esta sua condição, quase instantaneamente, começam a mover-se na direcção da luz).

Como forma de comemorar o dia 21 de Dezembro e de recordar o irmão perdido no sentido da cura e do alívio desta ferida, Althea Hayton convidou os sobreviventes a realizarem nesse dia algum tipo de ritual ou introspecção.

As afirmações que a seguir se apresentam foram propostas por Althea como ideias para quem quisesse realizar um ritual e não sabia como, mas como ela própria afirmou, chegava o simples facto de guardar alguns minutos desse dia para recordar o seu irmão gémeo.

  • Deixo-te agora para ires em liberdade para onde deves estar, já que sei que nunca estiveste destinado a estar aqui comigo.
  • Por manter-te próximo de mim, para me ajudares, não podeste ir para a tua nova morada. Vai agora; é seguro para ti partires assim como o é para mim para ficar.
  • Sinto a tua passagem por mim e compreendo que o que me trouxeste foi como uma ligeira sombra da relação gemelar num fragmento de memória , apenas isso…
  • Estou aqui, tu não. Ficarei por cá mais algum tempo, e logo nos reencontraremos.

3 de janeiro de 2009

Saudade

Uma das maiores aflições que os gémeos sobreviventes relatam é a Saudade. Quando direccionada no sentido construtivo, é ela que faz escrever poesia, compor músicas e cantá-las com emoção, pintar quadros, imaginar histórias de amores perdidos e reencontros (quantos fadistas não terão tido esta fatalidade...).
Mas a saudade também pode ter um poder imenso no sentido destrutivo, levando as pessoas à desorientação, à tristeza, à depressão, e depois aos vícios como a droga e outros.
É ela também muitas vezes a responsável por dificuldades de relacionamento, ou por terríveis mal entendidos nas relações, amorosas ou não-amorosas.
Na esperança (ou com medo) de reencontrar o irmão perdido no seu par, repete-se com ele a história que se viveu (ou não viveu) naquela fase tão recôndita mas tão decisiva da vida! Foi uma história de amor e de dor, essa é a bitola trazida para o presente.
E é tão complicada a cura desta dor, porque ela é apetecível - é lá que está a "querida metade". Para a cura ter uma chance de ser eficaz é preciso voltar lá, sentir, compreender, perdoar e depois esquecer.

A Saudade, de tão doce, faz doer o coração.
(bonecas de Paula Estorninho)